O Pacense
sábado, julho 15, 2006
  Prudência e Caldos de Galinha nunca fizeram Mal a Ninguém


Há dias, poucos, foi notícia de telejornal um jantar, ou almoço, para o caso tanto faz, que reunia o senhor Pinto da Costa, presidente do F.C.P. e oitenta deputados. Motivo do almoço? Todos os oitenta deputados eram "dragões". E lá surgiam os deputados, não sei se os oitenta, rodeando o senhor Pinto da Costa que, aproveitando o ensejo para mais uns momentos de glória televisiva, respondeu às perguntas do solícito entrevistador naquele seu estilo piadético a que já nos habituou. Há quem não lhe ache de todo piada nenhuma, como é o meu caso, de facto não consigo encontrar ponta de humor em chalaças pesadas, provocatórias e bastas vezes mal-intencionadas, mas não era esse o sentir dos senhores deputados que ouviam e soltavam sonorosas gargalhadas.
E depois? Não terão os senhores deputados o direito de cultivarem as amizades que muito bem entendam? Decerto, mas mais como cidadãos do que como deputados. E não terão direito a ter as suas opções clubísticas? Incontestavelmente.
Então? Então é que os senhores deputados enquanto tais não são cidadãos comuns, são os representantes do povo que neles delegou, pelo voto, a capacidade de o representarem, integram um órgão de soberania, a Assembleia da República, um dos esteios do regime democrático a quem incumbe, entre outras coisas, fazer as leis que nos regem e fiscalizar os actos do governo e que, além disso, devem ter uma imagem de idoneidade e respeitabilidade irrepreensíveis, embora suponha que esta última qualidade não se encontre escrita. Mas se não está decorre ela da ética da prestação de um serviço público de tão grande relevância como o é ser-se deputado. Já vos vejo sorrir. Mas se esta é a imagem ideal e que, como tal, não corresponderá de todo à realidade, nem por isso os detentores do cargo de deputado se eximirão à responsabilidade que têm de em todos os seus actos públicos prosseguirem este desiderato. E este repasto com o senhor Pinto da Costa foi um acto público pois foi assim que a televisão no-lo mostrou.
Mas onde é que eu quero chegar? A isto: faz muito tempo que comentadores políticos e até agentes da coisa pública, e de vários quadrantes, vêm denunciando eventuais conúbios, menos lícitos, entre o poder político, o futebol e os interesses económicos. Até ao presente, é verdade, sem grandes resultados. E se esta suspeita existe seria de bom tom que os agentes desta trindade aparentassem, ao menos, uma imagem pública de que entre eles há um separar de águas. Por respeito para com eles próprios e por respeito para connosco. Ora cerimónias como aquela que a televisão nos mostrou em nada nos tranquilizam.
Senhores deputados, almocem, jantem, com o senhor Pinto da Costa ou com quem vos der na real gana, mas sejam discretos e façam-no, se possível, na condição de simples cidadãos. Alguém disse que em política aquilo que parece é.
Para que não nos fique aquela imagem de os senhores deputados irem almoçar com o senhor Pinto da Costa, em grupo folgazão, como good fellows.
 
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