terça-feira, maio 01, 2007
  24.ª Ovibeja

Decorre a 24.ª edição da Ovibeja. A todas assisti e, com agrado, fui verificando o seu constante crescimento até se transformar naquilo que hoje é, o maior mostruário das actividades económicas da região e, creio, a maior feira a sul do País. Incipiente, titubeante nos seus inícios, ocupando apenas o antigo Pavilhão das Lãs, sendo quase somente uma exposição ovina, pois foram ovinicultores que a iniciaram, medrou, cresceu e atingiu uma maioridade pujante e assertiva.
A outra grande feira, a Feira de Agosto, de S. Lourenço e Santa Maria mais propriamente dita, foi definhando e acabou definitivamente. Era já um anacronismo. O mundo rural, que era a sua matriz, mudou, transformou-se, e a Feira perdeu a sua razão de ser. Assinalava ela o fim do ano agrícola, quando patrões e assalariados saldavam as suas contas. Era por Santa Maria que se tabelavam os preços dos cereais que eram, à falta de numerário, utilizados também como moeda de troca. Era ela o corolário do ano agrícola e a sua grande festa final.
A centenária Feira morreu Mas o tempo, e particularmente o tempo económico, não se compadece com nostalgias e tradições. Havia que mudar e em boa hora se soube mudar para um outro tipo de evento mais conforme com as novas realidades económicas.
Olhando o programa dos espectáculos previstos para a presente Ovibeja verificamos que, para além da tradicional corrida de touros, tão do agrado de um público fiel, fiel ao espectáculo e às suas raízes rurais, há todo um conjunto de actividades previstas que privilegiam exactamente esse público e o público dito jovem. Compreende-se, a feira existe em função do mundo rural e porque a cidade, com o surgimento do ensino superior politécnico, viu subir exponencialmente a sua população juvenil, compreender-se-á também que se tenha em atenção a população jovem, que além de numerosa tem algum poder de compra, pois assim se viabiliza a animação até altas horas e se viabiliza também o sustento económico das numerosas tascas e tasquinhas que sempre pontuam o recinto da Feira. Menos compreensíveis serão as libações alcoólatras a que grande parte dessa juventude se devota madrugada adiante, mas enfim, calemo-nos antes que nos chamem moralistas, coisa que obviamente não pretendemos ser.
Pessoalmente sinto-me arredado de toda essa programação cultural. Não tenho raízes rurais, sou mais urbanus que paganus, e por outro lado já atingi aquilo que se denomina por meia-idade. Decerto que não estou sozinho. Em suma, cuido que ficará por contemplar uma grossa fatia da população citadina, pois que a cidade já terá hoje uma dimensão média e a maior parte da sua população não tem vínculos à ruralidade, são gente dos serviços e de hábitos urbanos, com exigências que a programação cultural prevista de todo não contempla. Ele há públicos e públicos. E a realidade atrás descrita será cada vez mais saliente, pois o crescimento da cidade, que não sendo rápido, se vem revelando gradual e constante, assim o ditará. Não seria pois tempo de em futuras edições da Ovibeja ter um maior cuidado na sua programação cultural, tendo em atenção tais públicos? Aqui fica a sugestão.
 
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