O Pacense
sexta-feira, outubro 05, 2007
  Em Defesa de Aquilino

Não passou sem alguma polémica a trasladação dos restos mortais de Aquilino Ribeiro para o Panteão Nacional. Desde o brado de vergonha nacional, traição aos valores pátrios e mau exemplo para os nossos jovens, até à acusação final de terrorista e regicida, nada faltou a desmerecer a memória do nosso maior prosador do século passado.
Regicida? Está por provar que Aquilino tenha participado no assassinato do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro Luís Filipe. Sempre ele o desdisse e mesmo após a implantação da República, quando lhe teria sido fácil colher os louros de tal acto, decerto enaltecido e premiado pelo radicalismo jacobino da época, mesmo então ele o continuou a negar. Segundo o "Expresso", datado de hoje, cinco de Outubro, o escritor e jornalista Jorge Morais, autor do livro "Regicídio, A Contagem Decrescente", tanto mais insuspeito quanto é homem de ideais monárquicos e que foi conselheiro do gabinete do Duque de Bragança, em entrevista concedida ao mesmo semanário afirma, a propósito, que "Aquilino foi carbonário, panfletário, conspirador do Café Gelo, amigo pessoal de Costa e de Buiça. Mas não se conhece prova de que tenha estado nos locais do regicídio. Encontrava-se refugiado nas águas-furtadas de um prédio da rua Nova do Almada desde o dia 14 de Janeiro. E terá chegado a tentar convencer um dos regicidas, Alfredo Costa, de que o assassínio do rei seria contraproducente para a causa republicana...".
À falta de provas recorre-se ao anátema e à calúnia.
Terrorista que conspirou contra um Estado de Direito? Decerto que a monarquia então vigente, velha de sete séculos, era um estado de direito. Mas se Aquilino conspirou contra um estado de direito o que fizeram todos aqueles de quem ele foi compagnon de route? O que foram então Afonso Costa, Bernardino Machado, Manuel de Arriaga, Teófilo Braga e tantos outros, que têm o seu nome em ruas e praças e vêm mencionados nos compêndios de História? Levado ao absurdo este raciocínio teremos que concluir pela ilegitimidade da República e teremos que remeter para o limbo das personae non gratae da nossa História todos os obreiros do regime republicano. E no mesmo rol haveremos de meter aqueles que fizeram o 25 de Abril, pois que também eles conspiraram contra um estado de direito, representado pelo regime autoritário de então, do mesmo modo que estes também haviam por sua vez conspirado contra um estado de direito, representado pela 1ª República, e seguindo esta senda haveremos de condenar Afonso Henriques por se ter rebelado contra a mãe e ter-se mais tarde proclamado rei, desrespeitando o acordo feudatário celebrado por seu pai com os reis de Leão e Castela.
Mas que importa tudo isto perante a grandeza e a glória do prosador? Não foi essa a razão que levou à sua trasladação para o Panteão Nacional? O que se poderá questinar é se o escritor será merecedor de tal honraria, a maior que a Nação poderá conceder a um dos seus filhos. E o escritor Aquilino Ribeiro merece-a decerto. Dizer eu que Aquilino foi o maior prosador português do século passado terá o valor tributável a um escrevinhador de blogs, a quem decerto não se reconherá sapiência para emitir tais juízos de valor, nem eu me arrogo tal autoridade. Mas encontro-me bem escudado. Assim o disse, aquando das cerimónias de trasladação, Urbano Tavares Rodrigues e José Saramago, quando lhe noticiaram ter sido o vencedor do Prémio Nobel, terá dito mais ou menos isto: "Sou um homem de sorte, se o Aquilino ainda fosse vivo seria ele a ganhá-lo". 
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