O Pacense
sexta-feira, agosto 11, 2006
  A Todos o Meu Obrigado

Este blog vai de férias até final do corrente mês. A todos os que me têm honrado com a sua visita, e na esperança de que tais visitas se possam renovar de futuro, o meu muito obrigado. 
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domingo, agosto 06, 2006
  Antitabagismo Primário

A história conta-se em poucas palavras: uma empresa irlandesa, num anúncio de emprego informava que "Se for fumador não se incomode em responder"; logo a legitimidade de tal anúncio foi questionada por uma senhora eurodeputada britânica, Catherine Stihler, a quem foi respondido pelo senhor Vladimir Spidla, comissário europeu do Emprego e Assuntos Sociais que tal anúncio não violava nenhuma lei pois que " A legislação antidiscriminação europeia proíbe a discriminação no emprego e noutras áreas com base na raça ou etnia, numa deficiência, na idade, na orientação sexual, na religião ou crenças". Pelo que, segundo o douto comissário, recusar emprego a um fumador é algo de perfeitamente aceitável, por não se enquadrar em nenhuma das situações acima mencionadas.
Resposta típica de um burocrata de antolhos a quem falta qualquer bom senso.
A legislação europeia antidiscriminação também não prevê milhentas outras situações que nós, num exercício lúdico, poderíamos elencar: por exemplo e porque não os comedores de passarinhos fritos? Ou de jaquinzinhos? E os pescadores que pescam com isco vivo? E os caçadores? E os que frequentam touradas? E os que coleccionam coisas mais excêntricas como caixas de fósforos, pacotes de açúcar, cintas de charutos e tantas outras coisas? E os solitários? E os altos, os baixos, os gordo, os magros, os feios, os que tomam bica, os que bebem imperiais, os que têm mau hálito, os que não gostam de futebol, os que detestam telenovela, os que não gostam do José Cid?...
Acrescente outros, se lhe der no goto.
A situação é de tal modo caricata que de facto nos dá vontade de brincar em torno dela, numa primeira fase, para nos preocupar numa segunda. É que a perseguição, a cruzada, que se tem movido contra os fumadores vem assumindo aspectos perfeitamente execráveis. Compreende-se que os fumadores não incomodem e prejudiquem os outros com o seu nefando vício: por isso, e cada vez mais, é proibido fumar em recintos fechados e nos locais de trabalho, reservando a esses pobres de espírito locais onde possam satisfazer o seu pecaminoso vício. Mas daí a discriminar alguém no mundo laboral por ser fumador e um dos burocratas que nos governam a partir de Bruxelas achar isso a coisa mais natural do mundo, é demais.
Há algum tempo contraí um empréstimo bancário, coisa de pouca monta, o que não evitou o ter que responder a um exaustivo questionário sobre as minhas capacidades físicas e mentais e onde me perguntavam, inclusive, não apenas se fumava mas quantos cigarros fumava por dia.
Devo confessar-vos que entretanto fiz uma pausa neste escrito e fui fumar um cigarro.
Mas que tinha a instituição bancária a ver com os cigarros que eu fume ou deixe de fumar por dia? E que tem o patrão a ver com o facto de o seu empregado cultivar os seus pequenos vícios e prazeres? Que tem que ele, para melhor lhe esquecer a cara e o baixo salário, vá ao bar mais próximo, depois de mais uma jornada de trabalho, beber uma imperial com os amigos e fumar um cigarro?
Segundo a tal empresa irlandesa o justificativo para o seu bizarro anúncio é que os fumadores são, pasme-se, anti-sociais e têm mais baixas médicas. Estamos pois no reino do mais feroz economicismo. Deves zelar pela tua saúde, abandonar práticas que te prejudiquem no teu rendimento laboral, pois há que produzir mais e mais e sempre mais. Se é para isso já têm os robôs, para que querem pessoas, seres humanos?
E eu, que sou professor, o que me sucederá? Dir-me-ão, um destes dias, que ou deixo o cigarro ou deixo a profissão por ser um péssimo exemplo para os jovens de cujo ensino sou responsável? Ou dir-se-á ao candidato a professor que se é fumador nem valerá a pena fazer a sua candidatura?
Mas afinal o que se pretende? Ter um mundo de seres uniformizados, padronizados, iguais, monotonamente iguais, sem vícios, impolutos, bacteriologicamente e eticamente puros, obedientes e zelosos cumpridores dos padrões de conduta que uns quantos fariseus da nova religião do economicismo e do politicamente correcto nos querem impor? Se assim é, e parece que é, será bom que nos precavamos. É que isto tem um nome, chama-se fascismo. 
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  O Fiel Amigo


Chega o Verão e eis que o bairro onde habito ganha novos habitantes: cães abandonados que aqui vêm parar, possivelmente porque o bairro é excêntrico e tranquilo, possivelmente porque confina com o campo, possivelmente porque aqui sempre há umas almas caridosas que os vão alimentado e dessedentando, possivelmente por tudo isto.
Ele há duas épocas críticas para que os cães por aqui apareçam e que são o início do período de férias e o período de abertura da caça. Levar o cão de férias é um grande transtorno e uma grande trabalheira: o cão não pode ir à praia, o cão não é consentido em restaurantes, discotecas e estabelecimentos similares, o cão é um trambolho que só atrapalha. Levá-lo para um desses hotéis ditos de cães onde o recolham por alguns dias? Custa dinheiro. O melhor mesmo é largá-lo no meio da rua. Mas esse sentimento de abandono é sentido pelo cão de uma forma profunda, não direi que o sinta como um dos nossos filhos o sentiria se assim fosse abandonado, mas um cão não é de todo destituído de sentimentos. E o cão assim abandonado pode ocasionar um acidente, pode atacar um pacato transeunte, quiçá uma criança, o cão vai inevitavelmente conspurcar as ruas com os seus dejectos, o cão pode tornar-se nocivo para a saúde pública. Que importa isso àquele que até ontem foi seu dono? Aparentemente nada. E depois se calhar o cão já está velho, até já consumiu alguns euros no veterinário, por isso a melhor solução é mesmo abandoná-lo.
Quanto ao período de caça essa é outra história: o cão é testado mas não provou, fugiu aos primeiros tiros, é um merdoso que só servirá para comer e dormir. Destino? Um de dois: ou leva já ali um tiro em pleno campo ou então abandona-se à sua sorte.
Existe na cidade uma organização chamada "Cantinho dos Animais" que recolhe e cuida de muitos destes "fiéis amigos" abandonados, e procura quem os adopte. Mas, claro, luta com dificuldades económicas para alimentar e tratar a mais de uma centena de cães que tem a seu cargo, ainda que os seus membros trabalhem em regime de voluntariado e nada recebam em troca do seu ofício. E é assim que alguns, poucos, lá vão tentando remediar os males ocasionados por os muitos energúmenos que habitam este país e o fazem parecer muitas vezes um lugar muito mal frequentado.
Diz-se que uma das formas de aquilatar do grau de civilidade de uma população, de um país, é através da forma como trata os seus animais. Pois se já ficamos mal em tantos parâmetros de civilidade neste não ficamos melhor.
Perguntava eu esta manhã a um vizinho porque não são penalizados aqueles que assim procedem, pois a lei tipifica como condenável os maus tratos infligidos aos animais. Respondeu-me ele:
-E quem é que os vai penalizar?
E é assim. Instalou-se um sentimento de total impunidade e irresponsabilidade pois não há autoridade que nos valha na prevenção e penalização das práticas mais aberrantes e condenáveis.
A propósito, ouvi há poucos dias, na televisão, que não sei que instituição oficial iria iniciar mais uma campanha de sensibilização no tocante ao abandono dos animais. À falta de autoridade contrapõe-se assim mais uma piedosa campanha de sensibilização que inculque melhores práticas nas cabeças duras e irresponsáveis de muitos. Terá o efeito prático de muitas outras campanhas de sensibilização, coisa em que somos férteis, como aquelas que têm sido feitas, às dezenas, sobre segurança rodoviária sem que deixemos de ser os campeões europeus de sinistralidade rodoviária, muitos anos e muitas campanhas de sensibilização depois.
Assim não vamos lá!
 
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