O Pacense
domingo, novembro 25, 2007
  Não poderíamos ficar só com o fundo sonoro?

Escrever sobre futebol foi algo que nunca me cativou: não sou leitor de jornais desportivos, limito-me a ler as maiores na banca, serei dos portugueses menos informados sobre o desporto dito rei e para além disso, o que será o mais importante, já há algum tempo concluí que até nem gosto muito de futebol, sou apenas e só um pacífico adepto do Benfica. Porquê? Porque na minha meninice o Benfica foi Campeão Europeu, conquistou então um lugar proeminente no futebol europeu e mundial, lugar que a custo só hoje mantém, parecendo-se cada vez com um velho fidalgo arruinado que vive das glórias do passado. Mas porque sou do Benfica vejo todos os jogos televisionados em que a equipa participe. E é tudo, não vejo mais jogos nenhuns, para mim é pura perda de tempo, ver um outro jogo é para mim um longo bocejo. E se assim é só posso concluir que gosto do Benfica mas de futebol nem por isso.
Vem tudo isto a propósito do jogo de ontem, o Académica-Benfica, e dos apartes que os senhores comentadores vão debitando ao longo do jogo. Porque é meu entendimento que esses comentários primam, a maior parte das vezes, por uma repreensível parcialidade em favor das equipas adversárias do Benfica. Exagero? Penso que não. E se exagero deixá-lo, também tenho direito às minhas paixões, e as paixões são sempre parciais. Mas afirmo e mantenho que os comentários sobre o Benfica são parciais e até, por vezes, jocosos. E ontem a coisa começou logo mal. Tinham decorrido cerca de três minutos de jogo e já um dos comentadores encartados de serviço dizia que a Académica estava a tomar conta do jogo. Como é possível concluir-se e dizer-se tal com três minutos de jogo decorridos?
Mas os apartes continuam-se e são constantes: as opções do treinador são sempre incorrectas, os jogadores jogam sempre nos lugares que não lhes são os mais próprios e se golos surgem por parte do Benfica são sempre fruto do demérito do adversário, nunca mérito do Benfica. E depois há sempre aquelas doutas afirmações sobre os esquemas de jogo: ele é o 4-3-3, o 4-3-2-1,o 4 já não sei que mais, as substituições que se fazem ou se deviam fazer e que, regra geral, são feitas a desoras e sempre mal feitas, o diabo a quatro. E a volubilidade dos comentários, como são mutáveis em função dos resultados: passam os comentadores da adjectivação de bestial a besta tão facilmente como trocam de camisa.
Que fazer? Retirar o som à televisão? Já o fiz mas o resultado é uma tristeza, futebol é emoção, paixão, e sem esse fundo sonoro que, embora atenuado, nos chega da multidão no estádio, lá se vai grande parte do calor, da emoção.
Que fazer? Pois que sejam os senhores comentadores mais parcos e mais objectivos nos seus comentários e que nos deixem ver, sem nos irritarem, os jogos, porque para irritação já bastam as peripécias desfavoráveis dos jogos.
A solução ideal seria, quanto a mim, que se recriasse tanto quanto possível, o ambiente do estádio: para isso teriam que chegar até nós, de forma perfeitamente audível, os incitamentos, os comentários, os cânticos, o bruá-bruá da multidão nos estádios. E sem comentários, esses faríamos nós. Mas a ser assim lá ficariam os senhores comentadores desempregados e com o que já para aí vai esta não seria decerto a melhor solução. 
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domingo, novembro 04, 2007
  A Cruzada continua

Historicamente sempre os governos de esquerda mantiveram relações mais próximas do movimento sindical do que das associações patronais, isto é, sempre valorizaram mais o trabalho do que o capital. O que é estranho é o contrário, e o contrário é o que vem acontecendo com o actual governo do Partido Socialista, que governa sob o aplauso geral do patronato e mantém com os sindicatos um clima de permanente conflitualidade.
A sanha com que trata os professores é outro paradoxo de difícil compreensão. Depois da habitual profissão de fé na educação, comum a todos os governantes, como penhor e garante do futuro da comunidade, como a mais nobre das profissões e actividade de maior retorno em termos de investimento e blá-blá-blá, é vê-lo, praticamente desde que entrou em funções, cercear direitos adquiridos ao longo de anos como se fossem benesses ilegítimas, privilégios indecorosos. Ao mesmo tempo que capricha em diminuir mais e mais a autoridade dos docentes, de que o caso do novo estatuto do aluno é apenas o último episódio, submerge-os em exigências burocráticas tais que a aula, o momento de aula, que deveria ser a sua primeira e principal preocupação, passa a tarefa que se executa no meio dos breves intervalos que a burocracia lhes permite.
A avaliação dos professores, de que já chegou diploma legal às escolas, é a última peça desta persecutória cruzada. A partir de agora passam a estar os professores sob permanente suspeita. E a complexidade da execução dessa avaliação é tal que o bom senso aconselharia que se concedesse às escolas um período de adaptação, até pelas várias regulamentações internas a que obriga. No entanto tal execução será feita no imediato, a sangue-frio. De feição empresarial, obriga o docente ao compromisso de atingir determinadas percentagens de sucesso dos seus alunos, cujo incumprimento repercutirá na sua avaliação final. Mais um óbvio passo no caminho do facilitismo.
A história mais recente da educação neste País não é uma história bonita, e como todas as histórias feias não creio que venha a acabar bem.
Sobre o ranking das escolas, recentemente analisado e publicado nos órgãos de comunicação social, não resisto a transcrever as palavras avisadas de António Barreto, publicadas no jornal "Público", de 4 de Novembro: "O que verdadeiramente está em causa é a mediocridade do sistema. A sua inspiração doutrinária. As modas científicas que afectam a pedagogia. O desinteresse das autarquias. A abstenção dos pais. A instabilidade dos docentes. Os conteúdos dos programas. A vulgaridade dos manuais. A falta de autonomia das escolas. De quase todos estes males, sofrem tanto as escolas privadas como as públicas. Mesmo se as privadas conseguem, em certos destes factores, uma melhoria relativa. Seria bom que não nos deixássemos distrair." 
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