domingo, novembro 04, 2007
  A Cruzada continua

Historicamente sempre os governos de esquerda mantiveram relações mais próximas do movimento sindical do que das associações patronais, isto é, sempre valorizaram mais o trabalho do que o capital. O que é estranho é o contrário, e o contrário é o que vem acontecendo com o actual governo do Partido Socialista, que governa sob o aplauso geral do patronato e mantém com os sindicatos um clima de permanente conflitualidade.
A sanha com que trata os professores é outro paradoxo de difícil compreensão. Depois da habitual profissão de fé na educação, comum a todos os governantes, como penhor e garante do futuro da comunidade, como a mais nobre das profissões e actividade de maior retorno em termos de investimento e blá-blá-blá, é vê-lo, praticamente desde que entrou em funções, cercear direitos adquiridos ao longo de anos como se fossem benesses ilegítimas, privilégios indecorosos. Ao mesmo tempo que capricha em diminuir mais e mais a autoridade dos docentes, de que o caso do novo estatuto do aluno é apenas o último episódio, submerge-os em exigências burocráticas tais que a aula, o momento de aula, que deveria ser a sua primeira e principal preocupação, passa a tarefa que se executa no meio dos breves intervalos que a burocracia lhes permite.
A avaliação dos professores, de que já chegou diploma legal às escolas, é a última peça desta persecutória cruzada. A partir de agora passam a estar os professores sob permanente suspeita. E a complexidade da execução dessa avaliação é tal que o bom senso aconselharia que se concedesse às escolas um período de adaptação, até pelas várias regulamentações internas a que obriga. No entanto tal execução será feita no imediato, a sangue-frio. De feição empresarial, obriga o docente ao compromisso de atingir determinadas percentagens de sucesso dos seus alunos, cujo incumprimento repercutirá na sua avaliação final. Mais um óbvio passo no caminho do facilitismo.
A história mais recente da educação neste País não é uma história bonita, e como todas as histórias feias não creio que venha a acabar bem.
Sobre o ranking das escolas, recentemente analisado e publicado nos órgãos de comunicação social, não resisto a transcrever as palavras avisadas de António Barreto, publicadas no jornal "Público", de 4 de Novembro: "O que verdadeiramente está em causa é a mediocridade do sistema. A sua inspiração doutrinária. As modas científicas que afectam a pedagogia. O desinteresse das autarquias. A abstenção dos pais. A instabilidade dos docentes. Os conteúdos dos programas. A vulgaridade dos manuais. A falta de autonomia das escolas. De quase todos estes males, sofrem tanto as escolas privadas como as públicas. Mesmo se as privadas conseguem, em certos destes factores, uma melhoria relativa. Seria bom que não nos deixássemos distrair." 
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