O Pacense
domingo, junho 10, 2007
  10 de Junho

Hoje é Dia das Comunidades Portuguesas. Já lhe chamámos Dia de Portugal e até Dia da Raça. Da raça convenhamos que não era bem achado. Que raça? A portuguesa? Estudos científicos dizem-nos que não há raças entre a espécie humana e se as houvesse nós não seríamos seguramente uma delas: esta nossa finis terrae foi povoada por tantos e tão desvairados povos que acabámos por ser uma miscelâneas de todos quantos por cá aportaram e ficaram: a um primitivo substracto ibérico teremos que juntar fenícios, gregos cartagineses, celtas, romanos, suevos, visigodos, árabes, berberes e nos dias de hoje, com o advento das correntes imigratórias para o País, filhas da globalização, ainda lhe haveremos de juntar mais uns quantos. Por isso, raças portuguesas só a dos equídeos de Alter, que até nem nos deixam ficar mal, ou as dos vários canídeos, que até ganham prémios em confrontos internacionais: o nosso Rafeiro Alentejano, mas também o Serra de Aires, o Serra da Estrela, o Cão de Água, que até parece que foi marujo das nossas caravelas que deram novos mundos ao mundo, e algumas outras.
Era Dia da Raça pois, no tempo da outra senhora, que vivia num embevecimento laudatório e acrítico pelo passado, fruto de ideologias nacionalistas e anti-democráticas que fizeram vencimento na Europa até ao final da Segunda Grande Guerra e que entre nós se prolongaram até tarde, demasiado tarde, com a cumplicidade das democracias ocidentais, adeptas do mal menor e quanto ao povo pois que se lixasse, claro está.
Mas Dia de Portugal não vejo qual fosse o mal: nem seríamos originais, longe disso, pois tantos e tantos países comemoram o seu Dia. O mais conhecido será porventura o quatorze Juillet francês, das marchas militares, dos discursos sobre a grandeur gaulesa e dos bailes populares, mais conhecido pelas evocações históricas e porque a França era, até um passado recente, ainda capaz de impor essa mesma grandeza de nação fautora de ideologias e cultura.
Mas nós, portugueses, lidamos mal com o nosso passado: ao acriticismo do ante-25 de Abril sucedeu o hiper-criticismo do pós-25 de Abril, quando parecia que nada, absolutamente nada, do nosso passado seria de molde a nele nos revermos. E assim chegámos ao Dia das Comunidades. Do mal o menos: continuamo-nos a celebrar e, pois que temos uma tão grande diáspora, celebramos as comunidades que ao longo dos séculos espalhámos e continuamos a espalhar pelo mundo.
Mas estimaremos nós o nosso País? Não creio. Um País, onde os cidadãos arvoram em esperteza e motivo de orgulho toda a táctica de evasão ao fisco, não se estima verdadeiramente. Há aqui um notabilíssimo défice de educação cívica que manda que a todos incumbem responsabilidades pelo todo e que essa responsabilidade se traduz particularmente pelo pagamento das obrigações fiscais. E o grau de sinistralidade verificado nas nossas estradas, um dos mais elevados da União Europeia? Obviamente que o típico condutor lusitano bem que se está borrifando para a integridade física dos seus concidadãos e até, cúmulo da estupidez, para a sua. E este velho e arreigado hábito de lançar na via pública toda e qualquer porcaria? E o desordenamento urbano? E a forma como muitas vezes somos atendidos nos serviços públicos? E, e, e...
Não, nós verdadeiramente não gostamos do País porque não gostamos uns dos outros. É pena, mas que querem, é a vida.

P.S.: o jornal "Público" de hoje, dia 11, fala-nos do dia anterior como de "Portugal, de Camões e das Comunidades". Afinal também comemoramos o País, embora, envergonhadamente, de mistura com outras comemorações. Porque não haveremos de comemorar apenas e só, o que é muito, Portugal? 
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