domingo, março 25, 2007
  50 Anos do Tratado de Roma

Comemora-se hoje o quinquagésimo aniversário do Tratado de Roma, acto fundador da então denominada Comunidade Económica Europeia. Portugal ficou de fora, não apenas porque as democracias fundadoras não nos aceitavam mas porque Salazar não o queria. Estávamos então "orgulhosamente sós" e como tal haveríamos de ficar por mais 17 anos. Integraríamos mais tarde, em Julho de 1959, a EFTA, Associação Europeia de Comércio Livre, fundada sob a égide do Reino Unido, rejeitado na CEE pela oposição irredutível de De Gaulle, e que terá como membros, além daquele e de Portugal, a Áustria, Islândia, Suécia, Noruega e Suiça e como membro associado a Finlândia.
A adesão à EFTA, sigla inglesa de European Free Trade Association, revelar-se-ia prenhe de consequências para o nosso futuro desenvolvimento industrial, com o incremento das exportações e o surgimento do investimento estrangeiro, até então praticamente inexistente.
Mas seria a CEE de então e não a EFTA o motor da unificação europeia, a construção política mais bem sucedida da segunda metade do século passado.
Fitando as figuras dos visionários pais fundadores, Jean Monnet, Robert Schuman, Alcide de Gasperi, Paul-Henri Spaak, Konrad Adenauer, Winston Churchill, fica-nos a nostalgia dos líderes que então a Europa possuía e hoje claramente não tem. Eram todos eles homens nascidos no século XIX, que tinham atravessado duas guerras mundiais, a grande depressão dos anos 30, homens que tinham vivido momentos excepcionais e por eles tinham sido formados e temperados. Diz-se que só momentos excepcionais produzem líderes excepcionais e olhando o passado tal asserção tem o seu quê de verdade. E só um insensato desejaria que sobreviessem agora momentos de grandes dificuldades, como esses do passado, para que surgissem os tais líderes excepcionais. Mas que falta liderança à Europa falta.
O que se pretende que essa Europa seja? Um gigante económico e um anão político como o é actualmente? Mas ter protagonismo político implicará sacrifícios. Estarão os europeus dispostos a pagar tais sacrifícios? E que respostas dar aos desafios da globalização, o maior dos quais será, em minha opinião, o de conseguir manter esse aporte civilizacional do pós-guerra que é a instituição do wellfare state, o estado-providência, agora posto em causa e até ridicularizado por um neo-liberalismo triunfante e imbecil, algo que nos importa particularmente a nós portugueses, onde o estado providência chegou tarde e ainda hoje, sob múltiplos aspectos, de forma incipiente, e porque habitamos o espaço europeu de mais profundas e injustas assimetrias sociais? O que queremos ser, apenas o soft power ante o hard power americano, os gregos dos tempos modernos? E a Turquia, que resposta lhe dar? Relativamente ao problema turco andou-se até agora a encanar a perna à rã, mas algum dia terá que se tomar uma decisão, decisão que não terá apenas implicações ao nível económico mas outras, mais profundas e duradouras, de cariz civilizacional e, há que dizê-lo, militar.
Mas haverá uma consciência europeia? Falta-me o distanciamento, não viajo para outros continentes, mas quem o faz diz que sim, que isso é perceptível quando se está em África, na Ásia, nas Américas. Mas sinto-me eu europeu? Que outra coisa me poderia sentir? Dentro de mim coexistem pacificamente as duas condições de português e europeu, entre ambas não há contradição, foi sob os valores civilizacionais europeus que me formei e o meu país é parte cultural e geográfica dessa Europa, à qual deu um notável contributo histórico. Relembro aqui, à laia de conclusão, os versos pessoanos:
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.
 
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