domingo, setembro 10, 2006
  Caminhos de Ferro

Após mais que uma secular ligação directa de Beja à capital através do caminho de ferro eis que se perspectiva a perda dessa ligação, adivinhe-se a favor de quem? De Évora, obviamente. Será agora esta putativa capital do Alentejo que, através do seu ramal, objecto de recentes melhoramentos, irá beneficiar dessa ligação directa sendo que aqueles que de Beja se dirijam a Lisboa terão de fazer transbordo na Casa Branca, exactamente o inverso do que ocorria até agora, isto é, quem se dirigia de ou para Évora é que fazia o transbordo.
E eis como o ramal suplantou a via principal. Ramal será agora a via férrea que de Casa Branca se estende até Beja. Provavelmente passámos a contar com o ramal férreo mais comprido do mundo.
E assim, paulatinamente, nos vamos afogando nesta fatal e vil tristeza: perda de valências administrativas, perda de importância económica, uma como que ilha que mais e mais se vai isolando e afastando do todo nacional.
O IP8 continua a ser uma miragem, apesar das promessas sempre renovadas dos nossos deputados socialistas, a abertura do aeroporto para fins civis teima em não ultrapassar o seu actual estádio de novela grotesca e desse outro pilar dito estruturante para o desenvolvimento da região, o porto de Sines, teimam os media em trazer-nos notícias quase sempre pouco animadoras quanto ao seu relançamento.
Há poucos dias, devido ao encerramento de uma maternidade, as gentes de Mirandela vieram para as ruas e para as estradas manifestar o seu descontentamento. Provavelmente nada conseguirão com tal protesto, mas demonstram aos poderes instituídos que não aceitam de forma passiva todos e quaisquer ditames e provavelmente terão conseguido que em futuras decisões que à região digam respeito esses mesmos poderes ponderem melhor as suas decisões. Não proponho que imitemos esses gestos tremendistas e sempre dramáticos das gentes do Norte, mas afirmo que esta nossa habitual passividade conduz a que não nos respeitem e que connosco se permitam "brincar". Pois não será estranho que as ditas forças vivas da região, perante tantas adversidades impostas, que não naturais, não reajam de forma indignada? De que estamos à espera? Que se apiedem de nós? Hoje, em dias de impiedosa competitividade entre estados, regiões e cidades? Não perguntemos que papel nos reservará neste novo mundo que ora se constrói o poder central, os outros, perguntemo-nos que perspectiva temos sobre esse papel que nos propunhamos desempenhar. Mas onde estão essas elites capazes de apontar caminhos, capazes de reivindicar, de nos dar respeitabilidade? Onde estão que não as vislumbramos?
Entretanto Évora vai fazendo o seu caminho. Para os mais distraídos lembro que os socialistas, que por ora nos governam, se preparam para, em breve, aí realizarem o seu Congresso Nacional. Imaginam tal evento a ocorrer entre nós? Nem eu.
Não é que nos importemos muito com isso nem que tal nos faça falta. Mas é que tal acontecimento, ocorrendo em Évora, se traduz num reconhecimento político, e consequentemente social, económico, cultural e o mais que queiram, que a nós nos é claramente recusado.
 
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