terça-feira, abril 25, 2006
  25 de Abril


Já foi há 32 anos! Dirão aqueles que, como eu, eram ao tempo suficientemente maturos para terem da época uma memória bem viva. E à celebração dos acontecimentos então verificados, juntamos as memórias pessoais de todos estes anos transcorridos, de tal modo que celebramos o evento histórico e celebramos também quem nós éramos ao tempo: 32 anos mais novos, mais ingénuos, mais esperançosos e generosos, transportando connosco todos aqueles sonhos que todo o jovem sonha e que o tempo, esse inexorável juiz, se encarrega de puir e, quantas vezes, de esboroar de todo. Enfim , as celebrações do 25 de Abril, para aqueles que como eu rondavam então os 20 anos, já se não fazem sem uma profunda nostalgia por aquilo que foi e já não é.
Onde estaríamos nós hoje sem o 25 de Abril? Segundo o nosso Nobel estaríamos pouco mais ou menos no mesmo sítio. Referia-se o escritor, obviamente, às condições sócio-económicas e culturais de que hoje a mediania desfruta. A descolonização era uma inevitabilidade histórica e se a domocratização do regime terá influenciado a transição democrática em Espanha provavelmente teria acontecido o inverso, o expirar da ditadura franquista acarretaria consigo a agonia e o inevitável fim do salazarismo, ao tempo travestido de roupagens pseudo-liberais mas ainda assim anacrónico e impossível de sustentar, face aos ventos da História que um isolacionismo de décadas tentara em vão suster.
Mas fomos nós, nestes anos entretanto decorridos, capazes de construir uma sociedade mais justa, mais fraterna, mais igualitária, como foi promessa do 25 de Abril? A resposta, por muito que custe admiti-lo, é negativa. E era da constatação deste facto que decorria a afirmação de José Saramago. Somos hoje na União Europeia, como éramos então na Europa, uma das sociedades menos igualitárias, com uma das mais injustas distribuições da renda nacional.
Deparamo-nos hoje com novos desafios e novos problemas, dos quais um dos maiores será o da nova ordem económica global, acelerada pelo desenvolvimento célere das novas tecnologias da informação e comunicação. E face a esta problemática dita da globalização, que até ao presente se tem caracterizado, de um ponto de vista social, pela desregulamentação das relações laborais e pelo predomínio do capital face ao trabalho, as receitas, se assim se lhes pode chamar, mais comummente ouvidas dizem-nos que é preciso desregulamentar ainda mais, que a presença do Estado no campo social e económico é excessiva e inibidora do progresso, isto é, do lucro. Não creio que seja este o caminho. Continuo a acreditar no papel insubstituível do Estado como zelador dos negócios públicos e corrector das assimetrias sociais, económicas e culturais que as sociedades livres entre si sempre engendram. E tanto mais insubstituível quanto as sociedades são mais injustas e incapazes de autocorrecção, como me parece ser o nosso caso.
E os nossos governantes, que representam e são o Estado, estarão eles agora deveras preocupados com este nosso triste fado já que, pelo que nos é dado ver, não o estiveram antes? O discurso oficial não vai nesse sentido. Ouvi e vi as comemorações do 25 de Abril, que decorreram na Assembleia da República. O discurso do senhor Presidente da República foi aplaudido também, não sem alguma surpresa, pelos deputados do Partido Socialista. Pudera! O P.S. tem-se descaracterizado tanto nestes meses de governação de José Sócrates que ou muito me engano ou irá ser ultrapassado pela esquerda pelo Presidente da República, eleito ironicamente com os votos da direita. E não só, e não só!
 
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