domingo, maio 07, 2006
  OVIBEJA


A Ovibeja, que encerra hoje, vai já na sua 23ª edição.
Ao longo destes anos cresceu e afirmou-se como uma das mais importantes, senão mesmo a mais importante feira agrícola nacional. Numa região falha de dinamismo económico e onde a iniciativa privada não é particularmente acarinhada pela força política dominante ao nível autárquico, convenhamos que é obra. Ainda mais porque o Terreiro do Paço tardou, e muito, em reconhecer-lhe a importância que lhe era devida. Todos recordam decerto, aqueles que por estas coisas se interessam e delas guardam memória, como a feira decorria, nos seus anos iniciais, perante a total indiferença não só do poder político central como também dos órgãos de informação de expansão nacional.
Só tardiamente nela repararam. Foi a Ovibeja que se lhe impôs pela sua dimensão, porque não reparar neste evento era já, como nós dizemos, "estar na aldeia e não ver as casas".
E hoje é vê-los num corrupio visitando a Ovibeja, oriundos de todos os quadrantes políticos, em busca do protagonismo que tal visita lhes proporciona. Ironicamente é hoje a classe política que necessita da Ovibeja, é ela que integra a sua agenda política, não a Ovibeja que necessita dos seus favores para se afirmar.
As feiras de antanho, que cumpriam o seu papel económico acompanhando as etapas de desenvolvimento do ano agrícola, feneceram e hoje poucas subsistem. A Feira de Beja, dita de S. Lourenço e de Santa Maria, coincidia com o encerrar do ano agrícola e teve a importância própria de se realizar no seio de uma das zonas agrícolas mais importantes do País. Apesar de algumas más cosméticas que lhe foram sendo aplicadas ao longo dos últimos anos está definitivamente acabada. É um anacronismo e em economia, mais do que em qualquer outra actividade, e porque uma feira é essencialmente um evento de carácter económico, os anacronismos não perduram por muito tempo.
O êxito da Ovibeja advém-lhe do facto de ter o modelo adequado aos tempos de hoje. Nela não se compram cereais nem alfaias, tampouco vestuário para o próximo Inverno nem é momento ideal para diversão; ela é sim a montra das potencialidades económicas da região, mostruário ainda de muitas e diversificadas actividades, nem todas elas ligadas à actividade agrícola, e uma oportunidade de negócio. Além de que já não andamos imersos em nuvens de pó e com a cabeça à esturreira. Os burgueses em que nos tornámos já não o suportariam.
As mais valias advindas do projecto de Alqueva far-se-ão necessariamente sentir na economia regional e com isso a Ovibeja ganhará ainda mais importância. Haja fé. A mesma fé que animou uma despretensiosa exposição de gado ovino num armazém de lãs e que, com o tempo, se veio a transformar no grande evento que é hoje a Ovibeja.

A propósito de esturreira: o escriba destas linhas procura, neste seu passatempo, não cometer erros, pelos menos aqueles ditos de palmatória, consciente embora de que alguns poderão passar ao seu crivo que é decerto limitado. Por isso procurei em alguns dicionários o termo esturreira, duvidoso que estava de o mesmo lá se encontrar registado. Não o encontrei. É pena. Trata-se de um regionalismo bem expressivo e que tantas vezes ouvi referir quando, em criança, brincava na rua nas longas e ardentes tardes de Verão e a minha mãe me admoestava por eu andar há tanto tempo com a cabeça à esturreira.
 
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