domingo, junho 19, 2005
  O Pax Julia Reabre as Suas Portas

O velho Cine-Teatro Pax Julia, que passa por ser uma das maiores salas de espectáculos do Sul do País, reabriu as suas portas no passado dia 17 de Junho. Foi este um longo interregno, que durou de 1990 até aos nossos dias.
Após as muitas vicissitudes que as obras de remodelação padeceram, o que já parece ser fado de toda a obra que na cidade ou na região se faça, vide o projecto de Alqueva e a agora mais recente telenovela, talvez tragicomédia seja melhor apodo, da abertura do aeroporto militar de Beja para fins civis, mas dizíamos nós, após as habituais vicissitudes reabre o velho Pax Julia as suas portas e tal não passa sem que um sentimento de nostalgia perpasse por mim e, julgo, por todos aqueles pouco mais velhos, pouco mais novos que, como eu, desfrutaram tantas tardes e noites de puro prazer cinéfilo, tantas vezes redobrado por esse outro prazer de ver cinema de mão dada com a namorada. Éramos mais jovens, mais esperançosos, a vida tinha mais sabor e o Pax Julia faz indelével parte desse relicário precioso de memórias de juventude que cada um de nós traz consigo. Mas basta de nostalgia.
A futura programação contempla não apenas o cinema mas também o teatro, a música e a dança, expressões artísticas estas últimas que a velha sala raramente contemplou. Esperemos que com a reabertura uma nova era se abra para a fruição das variadas formas de arte.
Eu por mim espero ainda reconciliar-me com o prazer de ver cinema, que de mim se arredou nos últimos tempos. As salas de cinema actuais são cochichos, onde o som elevado a muitos e agressivos decibéis, suponho que para sublinhar e acentuar os efeitos especiais, incomoda e distrai. Não têm as salas de hoje o fôlego, a respiração, a grandiosidade das salas de cinema de antanho, construídas como palácios de fantasia onde os populares desfrutavam dessa nova forma de distracção, tardiamente erguida à forma de arte, pois que esses mesmos populares não tinham acesso às formas de arte canonizadas e consagradas pela burguesia culta e possidente, teatro, ópera e a chamada grande música. E de passatempo e curiosidade de feira fez o cinema o seu caminho e a ele se ergueram verdadeiros e fantásticos palácios, ficando para a posteridade como a mais genuína forma de arte do século passado, consagrando-se definitivamente como uma das mais marcantes e duradouras manifestações de cultura de massas, num reinado de décadas que a televisão, o vídeo e os mais recentes dvds apenas perturbaram.
Tempos passados em que ainda não tinham feito a sua aparição as malfadadas pipocas. Recordam-se? Aos intervalos fumava-se um cigarro, sem o sentimento de pecado que agora nos querem impingir, que bom que era, e bebia-se uma ginjinha no bufete. E o filme via-se sem aquela incómoda ruminação alarve e contínua.
Ainda se faziam letras como aquela da canção brasileira: No escurinho do cinema, chupando dropes de anis, longe de qualquer problema, perto de um final feliz.. Pois bem, vendam no Pax Julia dropes de anis, dos mais variados sabores, tutti-fruti, vendam até cachorros, hamburgueres, pizas, vendam toda a parafernália alimentícia com que as novas gerações se intoxicam e se deseducam em termos gastronómicos, mas, por favor, não vendam pipocas. 
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