terça-feira, maio 10, 2005
  A Propósito dos 60 Anos do Findar da Segunda Guerra Mundial

Passaram no dia 8 de Maio 60 anos sobre o fim da Segunda Guerra Mundial, que sendo Mundial devastou particularmente o continente europeu. Aqui poucos escaparam a essa onda de destruição e morte desencadeada pelos delírios paranóicos de Afolfo Hitler, esse homenzinho de bigode ridículo e extraordinárias capacidades comunicativas que logrou arrastar para a loucura toda uma nação tida como das mais cultas e civilizadas do velho continente, algo que ainda carece de uma explicação convincente, se é que algum dia a terá.
Menorizada de um ponto de vista militar, a Alemanha só na década de 90, após a reunificação, enviou tropas suas para um teatro de guerra exterior às suas fronteiras, neste caso para território da ex-Jugoslávia.
Mas já na década de 60, e pela primeira vez após o findar da Guerra, segundo cremos, a Alemanha havia enviado forças militares para solo estrangeiro. Neste caso para a Base Aérea nº 11, situada exactamente nas proximidades de Beja. Portugal e a Alemanha eram, e são, países membros da Nato e a deslocação dessas forças militares alemãs para solo português terá de situar-se dentro das directivas político-militares gizadas dentro dessa organização.
Mas na década de 60 seriam ainda muito vivas em toda a Europa as memórias das atrocidades cometidas pelas tropas alemãs de ocupação. A Guerra havia acabado há escassos 20 anos. Afinal quantos países europeus haviam escapado aos horrores da Guerra? A pacata e operosa Suécia, A Irlanda, recém-independentizada e que olhava com azedume a pérfida Albion que a havia colonizado e martirizado durante séculos, a neutral Suiça, a Espanha, que então lambia as dolorosas feridas deixadas por uma trágica e ferocíssima Guerra Civil, a euroasiática Turquia, que ainda digeria a perda do seu império no decurso da Guerra de 1914/18 e o Portugal periférico, atrasado, um tanto ou quanto exótico e onde reinava a paz podre imposta pela Ditadura.
Afinal em quantos países europeus, na década de 60, se toleraria a presença de tropas alemãs? Provavelmente apenas em Portugal. Até na franquista Espanha de então ela seria menos tolerada. Tropas alemãs haviam participado activamente na Guerra Civil ao lado dos nacionalistas e a Divisão Condor e o bombardeamento de Guernica, para sempre imortalizado por Picasso, eram símbolos demasiado poderosos para permitirem a muitos espanhóis um simples encolher de ombros de indiferença perante tal facto. Além disso a Espanha não era à altura membro da Nato.
Os horrores da Guerra não haviam afectado directamente o solo português e olhos que não vêem coração que não sente, diz o povo. A memória das atrocidades cometidas pelas tropas alemãs não nos era alheia, mas essas atrocidades tinham sido cometidas sobre outros. Também é verdade que o regime musculado de então não toleraria quaisquer manifestações públicas de contestação pela presença de tropas alemãs em solo nacional. Mas não poderia evitar atitudes individuais de repúdio, que se poderiam manifestar por indiferença, frieza e distanciamento no trato, o que também não se verificou. Na verdade as relações entre as duas comunidades foram, ao longo de mais de 20 anos, enquanto a presença alemã durou, relações se não cordiais pelo menos de mútuo entendimento. O que não é pouco atendendo ao lastro de tenebrosas memórias deixadas pelo nazismo e ao pouco tempo decorrido sobre o findar desse período de Guerra, o mais trágico de todos quantos viveu o velho continente no decurso do século passado. 
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