quinta-feira, maio 19, 2005
  A Classe Política sob Suspeita

Há um país velho e longínquo onde a classe dirigente tantas tropelias cometeu que o povo, isto é, os dirigidos, começaram a olhá-la como um mal necessário, algo que havia que sofrer já que não se entende um Estado sem dirigentes, por muito maus e incompetentes que se revelem. E embora existissem eleições e já por várias vezes os indígenas tivessem procedido à substituição desses mesmos dirigentes saía-lhes sempre pior a emenda que o soneto.
Por último a coisa começou a ficar preta, desculpem-me os politicamente correctos, com o défice das contas públicas. Havia que baixá-lo, havia forçosamente que sanear as contas públicas, o Estado andava a gastar bastante mais do que lhe permitiam os seus rendimentos e sem contas públicas equilibradas, diziam alguns mais avisados, não poderia haver crescimento económico sustentado, quer dizer, os pobres indígenas não poderiam melhorar as suas condições de vida. Algo que resultava incompreensível pois é precisamente para isso que a classe política existe, para tratar do bem comum. Vendeu-se património público, isto é, empobreceu-se o Estado, congelaram-se os vencimentos dos funcionários públicos durante dois anos, disse-se que agora já estava, os tempos de crise haviam acabado, a retoma económica estava em marcha, mas tudo isto soava a falso. Tanto soava a falso que o chefe de governo aproveitou uma inesperada oportunidade e pirou-se para o estrangeiro, para o desempenho de funções bem mais gratificantes do que chefiar um governo atolado em dificuldades e já sem energia para lhes fazer face. Deixou em seu lugar um play-boy, indivíduo que era useiro e vezeiro em tudo o que era revista do coração, bom papagaio, de discurso empolado mas absolutamente oco, a quem não se conheciam quaisquer merecimentos senão os atrás enunciados e então é que as coisas dão mesmo para o torto. O árbitro de todo este jogo, que dá pelo nome de Jorge Sampaio, homem de discurso redondo e que prima pela incapacidade de tomar decisões, viu-se então compelido a agir e a pôr fora tão patusco chefe de governo, convocando eleições antecipadas, ganhas pela oposição.
Pois bem, depois de todos aqueles anos de combate ao défice, depois de todas aquelas promessas chegou-se então à conclusão de que o mesmo não havia sido controlado, havia mesmo piorado.
Conclusão inevitável: andaram todo esse tempo a mentir aos indígenas. Será que para determinados tipos de procedimentos governativos bastará o castigo das urnas, isto é, a derrota eleitoral? Será que para procedimentos tão graves, como o de mentir aos governados e governar por forma a comprometer o bem estar presente e futuro de toda uma comunidade, não deveria haver uma penalização mais grave, perguntavam-se já os indígenas?
Os actuais governantes, que muito prometeram aquando da campanha eleitoral, levianamente ao que parece, vão ter que abrir mão dalgumas daquelas promessas pois a situação já não parece ser para paninhos quentes. Terá o actual chefe de governo arcaboiço para tanto, terá ele dimensão de estadista ou será apenas mais um dirigente de passagem? O seu antecedente partidário, que também deu à sola, governou tentando manter um eterno estado de graça, procurando agradar a gregos e a troianos, preferindo não tomar qualquer decisão a afrontar quaisquer interesses. Ora o actual foi ministro do anterior, a quem não regateia elogios. Será que lhe assimilou a escola? Até agora nada se viu, para além de alguns fogachos, a que chamam, alguns, actos simbólicos. Parece ter inaugurado um estilo de maior discrição governativa, parecendo pouco preocupado em aparecer diariamente nos telejornais das oito. Não está mal. Mas não basta. Não se querem governantes obcecados com a sua imagem, que transformem a governação em permanente encenação e espectáculo, sobriedade, parcimónia e dignidade quanto baste é o que se deseja à acção governativa, mas, que diabo, queremos, desejamos, que por detrás dessa circunspecção exista trabalho, projectos, dinâmica de futuro. Mas será ainda cedo para juízos definitivos. Esperemos. A ver vamos... 
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