sexta-feira, maio 06, 2005
  CASTELO DE BEJA

MÁRIO BEIRÃO
(1890-1965)

CASTELO DE BEJA


Castelo de Beja
No plaino sem fim;
Já morto que eu seja,
Lembra-te de mim!

Castelo de Beja,
De nuvens toucado;
A luz que te beija
É sol do passado!

Castelo de Beja,
Espiando o inimigo;
Te veja ou não veja,
Estou sempre contigo!

Castelo de Beja,
Feito de epopeias;
Um sonho flameja,
Nas tuas ameias!

Castelo de Beja,
Subindo, lá vais...
Tu fazes inveja
Às águias reais!

Castelo de Beja,
Lembra-te de mim:
Saudade que adeja,
No plaino sem fim...



Em data recente a Câmara Municipal de Beja homenageou o poeta Mário Beirão, filho da terra, onde nasceu em 1890, na Rua das Portas de Aljustrel, em casa devidamente assinalada com uma placa que dá notícia do fasto acontecimento. Homenagem singela que se traduz num pequeno memorial constituído pelo seu busto suportado por uma colunela e pela inscrição do poema que acima se transcreve, gravado em placa brônzea acoplada a outra colunela paralela à anterior, ambas de mármore cinzento, cremos que do chamado mármore de Trigaches.
Feliz, a iniciativa peca embora por tardia. Mário Beirão é, ousamo-lo dizer, o maior vulto poético bejense do século passado. No dizer de David Mourão-Ferreira, em artigo inserto no "Dicionário de Literatura" (direcção de Jacinto do Prado Coelho, Figueirinhas, Porto, 1983), "revelou-se como poeta de excepcionais qualidades ao publicar, com 21 anos apenas, o Último Lusíada que, inserindo-se embora no ideário do saudosismo, não deixava também de apresentar, em germe, algumas importantes características da poesia portuguesa posterior (v. g., um propósito de concisa epopeia que será, depois, o de F. Pessoa da Mensagem; uma obsessão telúrica que virá a exprimir-se na obra de Torga; um sentido de reivindicação social que terá involuntários continuadores entre os neo-realistas da geração de 40)".E o poeta que se revelou aos 21 anos foi vida fora um cantor da planície transtagana, das suas paisagens grandiosas e trágicas , da altivez nobre das suas gentes.
Nestes tempos de inadiáveis afazeres e de tempo sempre escasso sugiro-lhe que, sem pressas, vá até ao Castelo, e leia, saboreando, o poema que acima transcrevo, fite as muralhas, deixe que as palavras do poema e a ambiência o envolvam, depois suba à Torre de Menagem, repouse o olhar na planície, deixe que ele circunvague até aos contrafortes das serras distantes e dê asas ao pensamento. Provavelmente virá de lá mais reconciliado consigo e com os outros.

 
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