sexta-feira, dezembro 09, 2005
  E Você, também quer ser Espanhol?


Começa a ser recorrente ouvir-se, a propósito dos males de que o País enferma, a frase definitiva, assassina, com a qual se ultima a conversa: "O melhor era sermos todos espanhóis!".
Sintoma de gravíssima crise de identidade nacional? Nem tanto.
Então o que se passa? It's economics, stupid!
O vizinho cresce, moderniza-se, afirma-se no panorama europeu e mundial e nós? Bem, nós há anos que deixámos de convergir com a Europa, mesmo aqui ao lado e ainda tão longe. É acabrunhante, humilhante, de fazer roer de inveja qualquer português que se preze. E que coisa fácil é roermo-nos de inveja, esse sentimento tão português, tão idiossincrático. Sabia que é essa a palavra com que terminam "Os Lusíadas"? Não exactamente inveja mas enveja, no dizer do português quinhentista.
Qual a solução para esta apagada e vil tristeza do marasmo económico? Está-se mesmo a ver qual será. Arregaçarmos as mangas e tentarmos fazer mais e melhor? Não, o chico-espertismo nacional engendrou solução melhor: sentarmo-nos à mesa do vizinho, mesmo que não tenhamos sido convidados, e banquetearmo-nos. Digam lá se a solução não é um verdadeiro achado digno do génio nacional?
Mas isso de querermos ser espanhóis ainda tem que se lhe diga. Se até ao século XVI ainda um português se poderia intitular, se perguntada a sua nacionalidade no resto da Europa, ser um espanhol de Portugal, a partir da Restauração tal hábito perdeu-se, já lá vão, daqui a pouco, quatrocentos anos. É muito tempo. Isso de sermos todos espanhóis, ou melhor hispânicos, tinha a ver com a memória histórica da monarquia visigótica que havia unificado toda a Hispânia na sequência do desmoronar do Império Romano e que, por sua vez, deu de pantanas com a invasão muçulmana. E era a necessidade de unidade perante o mundo islâmico que fazia os povos ibéricos sentirem-se membros e participantes dessa Hispânia una e, sobretudo, cristã.
Hoje? Bem, assim como um galês ou um escocês poderá partilhar com um inglês a comum condição de britânicos, ou um norueguês e um sueco a sua condição de escandinavos, também nós, com os restantes povos da Ibéria, podemos partilhar, e só, a comum condição de ibéricos.
Mas não deixa de ser curioso que enquanto alguns de nós manifestam esse veemente desejo de também sermos espanhóis, se defronte o Estado espanhol com movimentos independentistas que o ameaçam fazer implodir.
O que se passa? It's economics, stupid!
A pulsão independentista surge precisamente nas províncias mais ricas e desenvolvidas do território espanhol. São elas que têm um produto mais elevado, são elas que mais contribuem para o bolo espanhol e, por isso, mais perderão na repartição final desse bolo. Mostrando-se as regiões mais ricas de Espanha tão pouco solidárias para com as mais desfavorecidas talvez que para connosco se mostrassem, quem sabe, mais caridosas e fraternas.
É já a seguir, é que é já a seguir!
 
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