sexta-feira, dezembro 30, 2005
  Que Todos tenham um Ano Melhor do que aquele que está a findar

O ano está a acabar e verdade, verdadinha, não correu bem à maioria dos portugueses. A retoma económica tarda, o desemprego aumenta a cada dia que passa, os novos aderentes à União Europeia passam-nos à frente que é uma limpeza, aqueles índices que a todos deveriam envergonhar persistem e um sentimento de depressão e descrença apossa-se de todos nós.
Na verdade não temos muitas razões para nos sentirmos felizes. No meu caso pessoal consumou-se aquilo que, qual espada de Dâmocles, me ameaçava, a mim e a muitos milhares: após 31 anos de serviço, quando esperava trabalhar mais cinco, porque foi isso que contratualizei com o Estado não ontem, não há meia dúzia de anos mas há 31 anos, vêm-me agora dizer que já não é assim, agora terei que trabalhar não mais cinco mas mais doze até alcançar a tão almejada reforma. Recordam-se todos, decerto, que até há muito pouco tempo se permitiu que agentes da função pública pagassem anos de trabalho, bastando para isso o testemunho de dois comparsas e com isso antecipavam em anos a idade de reforma. Noutros casos houve mesmo incentivos às reformas antecipadas. Que diabo, não foi assim há tanto tempo. Então os governantes que, à altura, pactuaram com tudo isto, não perceberam que, ao enveredarem por tal caminho, estavam a hipotecar o futuro de muitos outros? E por que o fizeram? Por motivos eleitoralistas, populistas? Por estupidez? Afinal que raio de governantes temos nós? Cometem dislates de forma irresponsável e são os outros que têm que pagar as favas? E eles, esses governantes, onde param? Provavelmente, porque melhor informados, prepararam as coisas de tal modo que já se encontrarão no pleno gozo da sua reforma, em muitos casos dourada. Não , na verdade não tenho muitas razões para me sentir feliz.
E agora? Bem, agora é de esperar tudo. Se contratos firmados há dezenas de anos são assim denunciados está aberta a porta a toda e qualquer arbitrariedade. Dizia-me o meu pai, já lá vão muitos anos, que o Estado poderá remunerar mal os seus funcionários mas remunera-os e cumpre o que com eles contratualiza porque o Estado é pessoa de bem, tem necessariamente que o ser. Parece que isso já foi.
E os aumentos anunciados , meus amigos, são de 1,5%. Será mais um ano em que perderemos poder de compra. Se for por bem, a gente conforma-se. Se de todos estes sacrifícios que nos são impostos resultar um futuro comum mais risonho, tudo bem, a gente acata. Só que já foram tantas as promessas adiadas e tantos os sacrifícios imediatos que, mesmo que a gente não queira, a descrença acaba por vir ao de cima.
A propósito, ouvi agora na televisão que o nosso primeiro-ministro sofreu uma distensão num joelho quando fazia esqui numa estância de Inverno na Suiça. A propósito? Porquê a propósito? Nem eu mesmo sei. Lembrei-me! Ainda bem que o nosso primeiro-ministro não vai ler estas linhas, senão imaginaria logo que eu estava para aqui a insinuar que quando se pedem sacrifícios à população os governantes devem dar sinais de alguma parcimónia e austeridade na forma como se conduzem na sua vida privada, com a qual nós não temos nada que ver, pois não é verdade? E insinuações destas são de mau gosto, miserabilistas. O nosso primeiro-ministro pode fazer esqui onde muito bem entender, até podia ir p'ró, olha, p'ró Colorado, para Bolton, que é uma estância de Inverno muito chique, pelo menos é o que eu tenho ouvido dizer, até costuma ir para lá esquiar o doutor Paulo Portas que também é uma pessoa muito fina. Bem, o nosso primeiro-ministro podia ir fazer esqui para a Serra da Estrela, parece que ele é daquelas zonas, mas também que graça tinha isso? Primeiro toda a gente o haveria de conhecer e lá se ia a bendita privacidade. Assim, na Suiça, ele há de ser tão conhecido como o primeiro-ministro da Lituânia, que eu se visse na rua não reconheceria e penso que nem você, e assim ninguém o irá incomodar. Segundo, já não há cão nem gato que não faça esqui na Serra da Estrela e, que diabo, é de esperar que os nossos governantes, a nossa elite governativa como sói dizer-se, procure desfrutar as suas merecidas férias em locais mais in. Na verdade, ir fazer esqui para a Serra da Estrela é um bocado fatela, não acha?
Bom, já vai longa a missiva. Tenha um bom ano caro leitor, melhor do que aquele que agora finda. Haja esperança, que a esperança é a última coisa a morrer, esperança e saúde que o mais, melhor ou pior, se arranjará. 
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