domingo, janeiro 22, 2006
  Metapresidenciais

Escrevo hoje, 22 de Janeiro, dia de eleições presidenciais. Para além da espuma da campanha, para além dos já habituais lugares comuns que os candidatos, esforçadamente, debitam País fora para plateias de convertidos, para além da renovada esperança de uma fracção cada vez menor dos eleitores em melhores dias, o que me fica como marca mais saliente, mais ou menos consequente, o futuro no-lo dirá, é, melhor será porque à hora a que escrevo ainda não sei os resultados definitivos, a surpreendente votação em Manuel Alegre, quer ele fique em segundo ou terceiro lugares.
Surpreendente porque, qual D. Quixote, sem o apoio de uma máquina partidária, até mesmo contra essa nebulosa de interesses e dependências feudais que comummente se designa por aparelho, no caso aquele do Partido de onde emana, se atirou à liça, granjeou adesões e conquista um significativo número de votos, suficientemente amplo para nos fazer meditar.
Desde logo a candidatura de Manuel Alegre não foi um epifenómeno ditado por razões de ordem pessoal de alguém que procura palco e notoriedade política; Manuel Alegre não o necessita por razões de todos sobejamente conhecidas e que seria ocioso enunciar.
Esta também não é uma candidatura cómoda; Alegre arrostou com a malquerença de muitos que foram seus companheiros de lutas políticas de muitos e largos anos, particularmente Mário Soares. Esta sua candidatura abriu feridas que tarde ou nunca sararão.
Se alguma razão mais forte ditou então esta candidatura foi a sua vontade de afrontar o poder, asfixiante, que os ditos aparelhos partidários vêm assumindo na vida política nacional, pouco espaço deixando livre para a livre participação cívica dos cidadãos. E é em volta desta candidatura que se formou um grande movimento cívico, gerado contra a lógica aparelhística, contra essa imagem, que infelizmente também é uma prática, nefasta para uma sã vida democrática, dos partidos como organizações tentaculares que tudo controlam e tudo decidem, desde quem é o candidato autárquico até ao emprego do filho do compadre do militante que é sobrinho do presidente da estrutura partidária concelhia.
Alguns sinais já haviam sido dados aquando da realização das últimas eleições autárquicas, com algumas listas de independentes intrometendo-se nas pugnas inter-partidárias e conquistando algumas autarquias. Em minha opinião esta é uma tendência que se irá acentuar no futuro. Compreenderão os partidos políticos estes sinais, serão eles capazes de mudar o suficiente para não defraudar mais as expectativas, tantas vezes goradas, dos eleitores?
O país precisa de subir um patamar em termos de exigência, rigor e seriedade, penhor de um desenvolvimento económico que tarda. Cabe aos partidos políticos serem agentes e protagonistas dessa mudança. Aos partidos e aos cidadãos, organizados ou não em estruturas partidárias. Afinal, e felizmente, a participação política e cívica dos cidadãos não se esgota na actividade partidária. 
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