sábado, abril 01, 2006
  Os Dramas da Emigração

A deportação de dezenas de compatriotas nossos pelas autoridades canadianas tem levantado legítimas preocupações por parte dos governantes portugueses e causado consternação entre todos nós que assistimos, quase diariamente, em imagens pungentes que as televisões nos trazem, ao desembarque de gente que, abruptamente, se vê obrigada a deixar bens, trabalho, escola, sonhos e projectos e se vê compelida agora a recomeçar do zero.
E contudo, para além dos dramas humanos que estas deportações suscitam, parece que as autoridades canadianas se limitam a aplicar, com legitimidade indiscutível, as leis sobre imigração vigentes no seu país, leis essas que parecem ser das mais generosas e abertas para a imigração legal, sendo o Canadá o país do mundo que mais imigrantes recebe tendo em conta a população residente.
Parece estarmos pois perante uma endrómina de putativos conselheiros que, aqui e do outro lado do Atlântico, de conluio com empregadores canadianos sem escrúpulos, levam a que muitos embarquem na aventura da imigração ilegal com promessas de uma rápida e fácil legalização, sendo que o embuste se terá acentuado a partir do ano 2000. E é aqui que as autoridades portuguesas, de parceria com as suas congéneres canadianas, terão que actuar rápida e prontamente, na detecção e severa penalização destes modernos traficantes de carne humana.
Solicitam estes imigrantes a concessão de um particular estatuto de refugiados por razões de perseguição ou exclusão de que serão vítimas em Portugal por motivos, religiosos, políticos ou de orientação sexual. Ora não será necessária uma investigação muito exaustiva por parte das autoridades canadianas para verificarem que, no Portugal de hoje, ninguém é perseguido ou vítima de exclusão em função de tais motivos. Daí a inevitável deportação. Entretanto, os tais senhores conselheiros ter-se-ão aboletado com milhares sonegados ao trabalho, esforço e poupanças destes mal aconselhados imigrantes. É revoltante.
Será pois de esperar uma rápida reacção das nossas autoridades no sentido do aconselhamento dos candidatos a imigrantes e na rápida repressão das malfeitorias que em torno destes se geram. É de esperar mesmo uma particular sensibilidade das nossas autoridades para com toda esta problemática, pois que somos um País de emigrantes desde há séculos, com comunidades espalhadas pelas mais díspares partes do mundo.
Acresce que começámos também a ser, de há poucos anos a esta parte, um País de acolhimento, sendo já de centenas de milhar o número de imigrantes que entre nós reside e trabalha. Também para estes se exigirá, por parte das nossas autoridades, a atenção e o tratamento que exigimos para com os nossos.
As deslocalizações de populações ir-se-ão acentuar no futuro, potenciadas pela rápida globalização da economia, facilidades de meios de transporte e permeabilidade de fronteiras, mormente no seio da União Europeia. Este é um fenómeno que veio para ficar e melhor será que nos preparemos o melhor possível para sabermos e podermos lidar com ele.
Ao longo de muitos anos de docência nunca tive um aluno estrangeiro. Este ano lectivo, nas turmas que me foram atribuídas, conto com cinco, 3 brasileiros e 2 ucranianos. Escolas há, mormente nos grandes centros urbanos, onde esta ocorrência acontece com maior amplitude, pois que a nossa região não é das mais atractivas para a mão-de-obra imigrante, precisamente porque a oferta de trabalho não abunda. E ainda assim eles aí estão, os imigrantes, presença já habitual e familiar nos mais variados locais. E assim também a presença de alunos estrangeiros nas minhas aulas passou de situação anómala e quase exótica a situação comum, banal, que me leva a encarar o Ruslan, o Oleh, o Giuliano, o Moroni e o Alison apenas como pessoas, alunos tão naturalmente meus como todos os outros indígenas. 
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