sábado, abril 08, 2006
  Outra Vez a Violência Escolar

Uma senhora professora foi agredida, selvaticamente agredida para ser conforme com a descrição do acto, por uma encarregada de educação numa Escola algures perto de Viseu. Foi esta sentenciada ao pagamento de uma multa no valor de 1.800 euros e ao pagamento de uma indemnização à agredida no valor de 1.500 euros. A agressão foi cometida, pasme-se, em 2.000 e só agora, passados seis anos, a sentença transitou em julgado. Alguns analistas políticos, e não poucos, referem insistentemente como a reforma mais urgente de que o País carece precisamente a do sistema judicial. Perante exemplos como este só podemos estar de acordo.
Mas não deixa de ser curiosa a ênfase posta no caso pelos meios de comunicação, como se algo de extraordinário tivesse acontecido, sendo que o extraordinário não é a agressão em si mas o facto de ela ter sido penalizada. Deveria ser o inverso, mas não é. Infelizmente o País e os poderes instituídos parecem ter-se habituado à violência que diariamente se perpetra sobre professores e auxiliares de acção educativa, um pouco por todo o País, como se de uma fatalidade se tratasse. No ano transacto terão ocorrido, fora aquelas que não foram participadas, cerca de 1.200 agressões em recintos escolares.
Mas em que oficina, em que fábrica, em que repartição pública, em que ambiente de trabalho um profissional está sujeito a esta catadupa de agressões verbais e físicas por parte daqueles a quem serve, a não ser na Escola? É isto normal, é isto salutar? Teremos que viver com esta triste e trágica banalização da violência escolar? Então a Escola, aquele espaço sagrado em que se ensinam as gerações vindouras, onde se giza o futuro do País, onde se fazem os investimentos mais produtivos e úteis de que carece uma sociedade, terá que coabitar fatalmente com este estado de coisas? Não seria tal situação passível de um sobressalto cívico por parte da sociedade, de uma genuína preocupação e de uma profunda intervenção por parte dos poderes instituídos? Parece que não. É que tal situação não é de agora, ela remonta há anos e há anos que se vem agravando.
Professores há que se dirigem amedrontados para a sala de aula, para o seu local de trabalho. É possível ensinar, e será possível aprender, em tal ambiente? Bem podem os governantes gastar dinheiro, dinheiro a rodos, com a educação, que os níveis de conhecimentos e competências adquiridos pelos nossos alunos em pouco melhorarão. É que o problema já não está no maior ou menor apetrechamento das nossas Escolas com meios materiais e humanos, o problema é um problema de paradigma educativo, que não é o do rigor, da exigência e da auto-responsabilização, mas sim o do facilitismo e o da impunidade. Mas a Escola não é uma ilha, ela assume e reproduz os valores da sociedade de onde emana.
Um encarregado de educação que viola o espaço vedado de uma Escola e agride um professor, por muitas razões que lhe assistam, será sempre um canalha. E uma sociedade que se permite conviver com tais actos, como se de uma fatalidade ou de uma banalidade se tratasse, é uma sociedade doente.
O mesmo vem acontecendo no resto do mundo, dito ocidental. Triste consolo. Mas aí, porque vão à nossa frente alguns anos, outro fenómeno emerge: nalguns países, nomeadamente na Holanda e Reino Unido, começam a faltar professores. Pudera, quem é que se habitua a ser sovado no seu local de trabalho? Nem os escravos, nos tempos de antanho. E ainda por cima mal remunerados, embora tal não seja o caso dos professores portugueses, cuja massa salarial é fracção maior do PIB do que a que auferem os seus colegas em outros países da União Europeia, não é verdade, senhor José Manuel Fernandes? Mas decerto também saberá que o PIB per capita português está em 69% da média comunitária. Adiante. Sem querer ser profeta creio que tal situação, a da escassez de professores, também por cá se irá verificar.
Onde tal não ocorre é na Finlândia, que por agora os nossos governantes parecem ter adoptado como modelo. Aí o que atrai os futuros professores não é o nível remuneratório, que não será excepcional relativamente ao rendimento médio nacional, mas sim a respeitabilidade e o estatuto social conferidos ao professor. Forçoso é concluirmos que aos nossos governantes não faltam nem optimismo nem ignorância quanto à adopção de modelos. 
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