domingo, novembro 19, 2006
  BLOGS

Quando principiei este blog assumi comigo próprio o compromisso de nele publicar um post por semana, isto dentro da medida em que tal me fosse possível. Poderia não ter assunto, poderia simplesmente não me apetecer fazê-lo ou não ter para tal oportunidade, porque para compromissos absolutos bastam-nos aqueles que a vida nos vai entretecendo ao longo dos anos: os familiares, os profissionais e tantos, tantos outros decorrentes de vivermos em comunidade. Em suma, este seria um compromisso apenas pessoal, lato, flexível, despreocupado, sujeito apenas e só aos meus humores, nada que tolhesse com a minha liberdade de fazer o que me desse na real gana, o que incluiria fazer ou não fazer mais um post.
Afinal passamos a vida a fazer aquilo que outros nos mandam fazer. Quando é que somos inteiramente livres? Suponho que o somos apenas no início da nossa existência, enquanto não entramos para a escola, e no final da mesma: primeiro porque protegidos pela inocência e fragilidade dos tenros anos, depois pela quase inimputabilidade que nos é concedida pela nossa qualidade de anciãos diminuídos ou incapazes, quer o estejamos ou não, pois assim somos vistos pelos outros, os activos. Faz muito tempo li uma entrevista com um escritor espanhol, tanto tempo foi que já não sei quem era, em que dizia ele, quando perguntado sobre se se sentia livre, que sim, que nunca tão livre se havia sentido, pois tinha atingido uma tal idade que já nada ambicionava, nem carreira, nem dinheiro, nem estatuto. E não proclamam os seguidores do budismo que é o querer a fonte de todos os males e de toda a infelicidade? Que só o estado de despojamento absoluto, o nirvana, nos concede a liberdade ou, neste caso, a libertação do ciclo do eterno retorno? E não procuravam também os místicos cristãos a total liberdade e o encontro com o divino no despojamento total?
Bem, mas voltemos a realidades mais terrenas e mais comuns aos comuns dos mortais, como é o meu caso. Pois este meu blog que como pura diversão começou e nessa condição se deverá manter, não escapa de todo à condição compromissória: comigo e com alguns poucos leitores, que entretanto granjeei, que já me têm interpelado quando alguma semana, poucas é certo, deixo de publicar o habitual post.
Acaso isto me desagrada? Obviamente que não, muito humanamente envaidece-me. Certo é que esses leitores não são muitos, mas também não ambiciono ter um blog best-seller. Mais leitores poderia ter se desse a este blog um carácter diferente, tratando de temas mais apelativos, não sei se me entendem. Não o faço nem o farei: a espuma dos dias, a politiquice, a maledicência, o voieurismo pseudo-erótico não me interessam de todo.
Mas este fenómeno recente que são os blogs cresceu de forma exponencial: são milhares no País, são milhões por esse mundo fora. Tantos são e tal importância assumiram como meio de comunicação que começam a ser objecto de estudo e tese. Neles se encontra de tudo como em qualquer quiosque de jornais, como dizia Pacheco Pereira em interessante artigo publicado recentemente no jornal "Público".
E como tudo o que é novo e tem um carácter eminentemente democrático não deixam também de colher o repúdio de alguns eruditos, elitistas e encartados intelectuais da nossa praça, tal como o foi o cinema nos seus primórdios, encarado como mero entretenimento de feira.
Tenho para mim que a haver blogs em tempos do salazarismo este não teria durado tanto tempo. Quem e como se controlaria então a liberdade de expressão, quem e como se controlaria então a publicação livre da livre opinião pública?
Eu por mim irei continuar a escrever no meu blog enquanto tal me der prazer.
 
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