domingo, novembro 05, 2006
  A Senhora Ministra errou o alvo

A Senhora Ministra errou o alvo. Tomou os professores pelos maus da fita e cometeu um erro crasso.
Primeiro: nenhuma reforma positiva será implementada na educação sem o concurso dos professores e muito menos o será com a sua permanente hostilização;
Segundo: o estado caótico a que chegou a educação neste País não é da responsabilidade dos docentes, senhora Ministra, estes são apenas funcionários, não são eles que delineiam as políticas educativas, os verdadeiros responsáveis encontram-se no Ministério, são aqueles que há trinta anos definem quais são essas políticas, são esses que terão que ser julgados. Até se poderia começar esse julgamento pela inefável ex-secretária de Estado Ana Benavente, porque não? A verdade é que o actual descalabro se fica a dever a políticas profundamente erróneas, assentes em pressupostos pedagógicos fantasistas e por tal desligados de toda e qualquer realidade não só pedagógica como sociológica. A aparente bondade de tais políticas, e ao contrário do que seria o seu principal objectivo, em nada tem contribuído para a correcção das assimetrias sociais numa sociedade profundamente injusta como era e continua sendo a sociedade portuguesa, antes tem contribuído para agravá-las;
Terceiro: a Senhora Ministra esquece que nesta equação da política educativa existem não somente os docentes mas também os discentes e seus agregados familiares. E esquece que os tais fantasistas pressupostos pedagógicos têm minado de forma constante a autoridade, sim a autoridade, de que o professor deve estar investido para bem desempenhar a sua missão: a cultura de escola que se instalou, marcada pela indisciplina, irresponsabilidade e laxismo são um dos principais óbices ao sucesso educativo. E é incrível como, ao longo de todos estes anos, governantes e sindicatos, aqui claramente cúmplices porque formatados pela mesma cartilha pedagógica, ignoraram esta realidade. E porque a realidade não corresponde às suas expectativas ignoram-na ou consideram-na errada, e porque os docentes são parte dessa realidade são eles, agora, Senhora Ministra, o erro, a mancha nefasta dessa realidade.
Senhora Ministra, é necessário restituir a autoridade ao professor, é necessário declarar o espaço escolar como um local de trabalho e auto-responsabilização, não como espaço de práticas lúdicas irresponsáveis. E é necessário, Senhora Ministra, chamar as famílias à co-responsabilização pelo comportamento e assiduidade dos seus educandos. Decerto não ignora que tal prática, iniciada há alguns anos em Inglaterra, teve como imediata consequência uma substancial melhoria do comportamento e assiduidade dos alunos.
Quarto: trate os docentes como aliados e parceiros, não como inimigos a abater. As propostas que recentemente vieram ao conhecimento público, como o acabar com as pausas lectivas de Natal, Páscoa e Carnaval, bem como as oito horas de actividades lectivas diárias, não são sérias, Senhora Ministra, são oníricas porque humanamente inexequíveis, traduzem um total desconhecimento das exigências físicas, intelectuais e psicológicas a que o trabalho docente obriga.
E esta consideração remete-nos para uma outra questão, Senhora Ministra, que é a do brutal agravamento das condições para a aposentação. Não se reconhecem especificidades próprias à profissão docente que fazem dela uma profissão de acentuado desgaste e daqui a anos, não muitos, teremos milhares de professores sexagenários incapazes, na sua maioria, de um desempenho digno da profissão e por isso, porque são profissionais honestos, a requerem a aposentação antecipada com as inevitáveis penalizações. A não ser que seja isto mesmo que se pretende, Senhora Ministra, e desse modo se pouparão alguns milhões ao erário público.
Curiosamente, esta questão da aposentação começou por vir quase em nota de rodapé nos comunicados sindicais chegados às escolas, quando se começou a discutir a revisão do Estatuto da carreira. Pois agora desapareceu por completo como objecto de discussão. A frente comum de sindicatos deixou-a cair no olvido. E no entanto, senhores sindicalistas, esta é uma questão que afecta milhares de docentes já no presente e muitos mais afectará no futuro e, devo dizer-vos, não é questão menor pois sempre que falo com colegas acerca da revisão do Estatuto, e faço-o com frequência, como calcularão, essa questão vem à frente de todas as outras. Este olvido ir-vos-á cair em cima, mais depressa do que cuidam, e decerto que a Senhora Ministra vos estará muito grata por tal lapso.
 
|


<< Home

Artigos Recentes
Arquivos
Links


Powered by Blogger

Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com