domingo, novembro 12, 2006
  Será Sócrates de Esquerda?

José Sócrates é de esquerda? Eis a grande interrogação que perpassa pelo espírito dos portugueses e os inquieta, mormente daqueles que nele votaram. Pois não é e nem sequer disfarça. É vê-lo no Congresso que os socialistas celebram em Santarém. Acaso já o viram, nas imagens que as televisões nos têm dado, de punho esquerdo no ar dando vivas ao seu Partido? Eu ainda não. Os delegados, timidamente, lá vão entoando os gritos rituais, de punho erguido, mas o secretário-geral "moita, carrasco". Prefere erguer o polegar em jeito de "tudo bem", "tudo fixe, meu". Portanto, Sócrates nem mimeticamente é de esquerda.
Conta-se que alguém se queixava a Willy Brandt de que a juventude alemã era demasiado radical, que não se reconhecia na social-democracia; respondeu este que tal não o preocupava, pois era-se radical aos 18 para se ser social-democrata aos 30, pois se não se é radical em jovem quando é que se será? Pois este homem, José Sócrates, nem na sua juventude foi radical, toda a gente sabe que começou a sua vida política por militar nas juventudes sociais-democratas. Pois se assim foi de que se admiram? É bem verdade que nem todos seguem o périplo preconizado por Brandt; vejam o caso de Durão Barroso, que começou por ser maoísta e acabou no centro-direita. Esse passou à frente das lebres.
E depois não é verdade que Sócrates governa com o aplauso geral da direita? Não é verdade que a oposição de direita vê-se e deseja-se para ser oposição? Que as reformas encetadas por este Governo e que a direita sempre reclamou, nunca por ela poderiam ser feitas por não ter força social para as impôr? Força social e uma boa imprensa, que são coisas de que até agora este Governo desfrutou. Resta saber até quando.
Sinais de esquerda? Poucos e cirúrgicos. Esta investida contra a banca e os seus escandalosos lucros num País em crise profunda caiu que nem sopa no mel, em vésperas de Congresso. Nisto o homem é exímio, tiro-lhe o chapéu.
Mas estas espertezas duram enquanto duram, duram até que um dia o pessoal se cansa. E quando o pessoal se cansar vai querer mudar de governo. Mas mudar para onde, em que sentido? Se somos governados à direita e a opção que nos resta será votar contra quem nos governa presentemente, que nos governa à direita, vamos votar na institucional direita, aquela sem máscaras? Este vai ser o grande dilema do eleitorado já que o voto nos comunistas, que andam agora em tão más companhias, e é claramente um partido do passado, é um voto sem futuro; só atrai os já convertidos e que votam com a mesma devoção com que um católico se persigna e um muçulmano jejua no Ramadão, isto é, vota porque não votar no glorioso Partido é pecado.
Porque o Partido Socialista vai sair desta governação esfrangalhado, descaracterizado, vazio social e ideologicamente. Claro que outros virão dizer que o P.S. sempre foi de esquerda e num outro Congresso, igualzinho a este, outros delegados dirão que sim e entronizarão entusiasticamente o secretário-geral que se segue. E proporão que se faça exactamente o contrário daquilo que presentemente fazem. Porque tem sido sina dos socialistas fazerem e desfazerem. Aparecem sempre tarde, depois de durante muito tempo, demasiado tempo, preferirem o "nim" ao "sim" ou ao "não". Foram grandes, sob a batuta de Mário Soares, quando foram assertivos e claramente disseram não a aventuras totalitárias nos anos de brasa que se seguiram ao 25 de Abril. A partir daí andaram sempre mais ou menos "às aranhas".
Repare-se: para a promoção dos professores na carreira havia um obstáculo na passagem do sétimo para o oitavo escalão; havia que realizar um trabalho original, de carácter pedagógico, com um mínimo de 50 páginas, e defendê-lo publicamente perante um júri. Que fez o primeiro governo de Guterres dois ou três meses após tomar posse? Acabou com esta barreira por solicitação insistente dos sindicatos. E com esta e outras semelhantes manteve o "estado de graça" durante mais de quatro anos, com a óbvia cumplicidade, estranhe-se, da livre, isenta e responsável comunicação social. O que fazem agora? Criam uma barreira de obstáculos para impedir a progressão na carreira aos docentes a que, simpaticamente, poderemos chamar de draconiana. Esta é a sina dos socialistas: fazem e desfazem. Acaso saberão o que andam a fazer?
 
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