domingo, janeiro 07, 2007
  Moinhos

Não é a primeira vez que me ocupo deste assunto e creio que não será a última: já em Setembro de 2005 havia aqui publicado uma crónica sobre os moinhos do Guadiana, lastimando o estado de incúria e abandono em que os mesmos se encontravam e encontram, alertando então para a necessidade imperiosa de se proceder à recuparação de ao menos um, testemunho que são do esforço de gerações passadas e peças de arqueologia industrial de inegável interesse.
Mas o que me leva a voltar hoje ao assunto é a recuperação de um moinho sito junto à rotunda dita de Évora, cujo proprietário em boa hora empreendeu, tarefa merecedora de elogio e agradecimento. Soube, em conversa de pé de orelha, que tal recuperação terá merecido o interesse da Câmara Municipal para, suponho, se proceda à valorização e aproveitamento turístico e, quiçá, pedagógico do edifício.
Mas seria bom que o exemplo deste munícipe, cujo nome aqui gostaria de deixar explícito mas que ignoro, frutificasse e servisse de incentivo e exemplo à edilidade e outras instituições no sentido de se proceder à recuperação de um dos moinhos do Guadiana. Cuido tal ainda ser possível por serem ainda vivos alguns mestres moleiros que em tal tarefa seriam imprescindíveis. De um sei eu, na freguesia de Brinches, que um particular recuperou e pôs a funcionar, a expensas suas, e que visitei há meia dúzia de anos. Mais uma vez um particular, um carola, foi obreiro de uma tarefa que, reafirmo, deveria ser incumbência de instituições oficiais.
Para além do inegável interesse histórico, técnico e monumental de tais edificações são elas passíveis de interesse turístico. Vejamos: ao turista recém-chegado à cidade e a quem apenas tenhamos para mostrar o património edificado da mesma é óbvio que a estada do mesmo se resumirá a horas, quando o que importa é que essa estada se prolongue. Pois não nos atenhamos apenas à cidade e levemos esse turista a visitar outros pontos de interesse, entre os quais, por exemplo, o fazer uma rota que se poderia denominar "Rota do Pão" e que o levaria a visitar um moinho dos ditos de vento, eólico, e um outro junto ao Guadiana, hidráulico, e um forno de lenha e veria, quando possível, os mesmos a funcionar e compraria o pão feito com a farinha moída nesses moinhos e tantas outras actividades que se poderiam engendrar em torno desta "Rota do Pão", não apenas com os turistas mas com as escolas, pois as potencialidades pedagógicas de tais iniciativas parecem-me evidentes.
Somos pobres em património? Não é verdade. Não sabemos apenas valorizá-lo. Outras cidades, Évora por exemplo, melhor do que nós o souberam preservar através dos tempos. Mas uma cidade com dois mil anos de história forçoso é que seja patrimonialmente rica, por muitos dislates que se hajam cometido no passado. A recente inauguração do Museu Episcopal é disso prova e é prova ainda de que algo está a mudar no relacionamento de Beja com o seu património, edificado e móvel.
A recuperação dos moinhos é uma tarefa imperiosa e de inegável interesse turístico. Não vamos edificá-los de raiz, vamos apenas recuperá-los, o que nos poupará a eventuais guerras com alguns fundamentalistas do ambiente que tanto gostam de armar ao pingarelho e logo haveriam de inventar mil e um artifícios para obstar a tal tarefa, não obstante o respeito que nos merecem as associações ambientalistas, honni soit qui mal y pense!
 
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